Saturday, January 13, 2007

A Oscilação do Atlântico Norte (NAO)

Fig.1 - Médias das anomalias do campo de pressão para a fase positiva da NAO no Inverno (DJF)
Fig.2 - Médias das anomalias do campo de pressão para a fase negativa da NAO no Inverno (DJF)
Fig.3 - Diferença entre a fase positiva e a fase negativa

A Oscilação do Atlântico Norte (NAO) tem sido caracterizada como um padrão da pressão ao nível do mar. A NAO (Figuras 1,2 e 3) caracteriza-se por uma variação em oposição de fase entre as anomalias de pressão registadas na região da Islândia e as registadas na região dos Açores. Isto significa que, em termos médios, quando a pressão está acima do normal na região dos Açores (com o consequente fortalecimento do Anticiclone dos Açores), é de esperar que os valores de pressão estejam abaixo do normal na região mais setentrional (reforçando, de igual forma, a depressão da Islândia). Esta é conhecida pela fase positiva da NAO. Na fase negativa, passa-se exactamente o contrário, isto é, há um enfraquecimento concomitante quer do anticiclone dos Açores quer da depressão da Islândia.
Numerosos estudos apontam para as consequências climáticas desta oscilação e das suas flutuações nas modalidades da actividade sinóptica no Atlântico Norte. A NAO é medida por um índice definido pela diferença normalizada da pressão entre dois locais no Atlântico Norte, um mais setentrional (normalmente Islândia) e um outro mais meridional (Açores, Lisboa ou Gibraltar) (Hurrell, 1995; Hurrel, 1996; Hurrell e Van Loon, 1997; Osborn et al., 1999; Ulbrich et al., 1999; Trigo et al., 2002- a; Trigo et al., 2003-b Hurrell et al., 2003; Thompson et al., 2003; Rodwell, 2003; Gillet et al., 2003). A apresentação da NAO que se segue baseia-se nos trabalhos que acabaram de ser citados. Basicamente, e como está representado no artigo de Wallace e Gutzler (1981), a uma fase positiva da NAO corresponde uma intensificação dos ventos de Oeste em altitude, que chegam com maior velocidade nas latitudes subpolares e guiam tempestades que atravessam o Atlântico entre a Terra Nova e na Europa do Norte. A sul da corrente zonal, o fortalecimento do anticiclone dos Açores, gera ausência de chuva e relativa calma atmosférica. Na margem ocidental do Atlântico, as temperaturas do ar descem bruscamente na região entre a Gronelândia e o Labrador, como resultado de uma forte circulação ciclónica que transporta massas de ar muito frias das regiões polares. Ao mesmo tempo, e em resultado da mesma circulação ciclónica, as temperaturas do ar estarão acima do normal no noroeste europeu. Mais a sul, um anticiclone subtropical fortalecido, origina temperaturas e precipitação abaixo do normal na Europa Central e Mediterrâneo e acima da média no Leste dos E.U.A.. No primeiro caso, a circulação anticiclónica é responsável pelo transporte de massas de ar oriundas de regiões árcticas e continentais mais setentrionais, enquanto que na região oriental dos E.U.A., chegam massas de ar de trajecto oceânico, oriundas das regiões tropicais do Atlântico, portanto massas de ar , quentes e húmidas. Hurrell (1995) sustenta que ambas as fases da NAO estão, pois, intimamente associadas com a localização e com a intensidade da corrente de jacto e, em consequência, com a trajectória das depressões no Atlântico Norte. Tal facto conduz, como já foi aludido, a padrões distintos da repartição da temperatura e precipitação na Europa e nos E.U.A. (Van Loon e Rogers, 1978). Esses padrões serão alvos de uma análise posterior. Na fase negativa tudo se altera. As regiões do Sul da Europa experimentam anos anormalmente chuvosos e relativamente mais quentes, enquanto que as regiões mais a Norte, registam agora valores deficitários de precipitação e temperaturas mais baixas.

Os mapas das figuras 1, 2 e 3 representam a configuração das anomalias de pressão ao nível do mar nas duas fases da NAO. Os dois centros de acção (anticiclone dos Açores e depressão da Islândia) encontram-se perfeitamente definidos, quer nos mapas das anomalias, quer nos dos valores médios.

Na figura 4 está o resultado de uma Análise em Componentes Principais (ACP) sem rotação do campo de pressão da Bacia do Atlântico Norte. O primeiro modo, que representa mais de 1/5 da variância total, retrata a NAO, atestada pelo facto de este padrão denotar uma estrutura dipolar, espelho de uma variação em oposição de fase entre a região da Gronelândia e Islândia com uma região mais meridional, centrada nas latitudes dos Açores. A reforçar a ideia de que se trata do padrão da NAO, está também representada na figura a correlação entre a componente principal correspondente ao padrão e a série da NAO de Hurrell (1995). O valor da correlação (-0.78) não deixa

Referências

Gillet, N.P.; Graf, H.F.; Osborn, T.J. (2003) – Climate change and the North Atlantic Oscillation. In James W. Hurrel, Yochanan Kushnir, Geir Ottersen, e Martin Vsibeck (edit.), The North Atlantic Oscillation: Climatic significance and environmental impact. American Geophysical Union:193-209

Hurrel, J.W. (1995) – Decadal Trends in the North Atlantic Oscillation: regional temperatures and Precipitation.Science, 269: 676-679.

Hurrel, J.W. (1996) – Influence of variations in extratropical wintertime teleconnections on Northern Hemisphere temperature. Geophysical Research Letters, 23: 665-668.

Hurrel, J.W.; Van Loon, H. (1997) – Decadal variations in climate associated with the North Atlantic Oscillation. Climatic Change, 36: 301-326.

Hurrel , J.W.; Kushnir, Y.; Ottersen, G.; Visbeck, M. (2003) – An overview of the North Atlantic Oscillation. In James W. Hurrel, Yochanan Kushnir, Geir Ottersen, e Martin Vsibeck (edit.), The North Atlantic Oscillation: Climatic significance and environmental impact. American Geophysical Union: 1-35.

Osborn, T.J.; Briffa, K.R.; Tett, S.F.B.; Jones, P.D.; Trigo, R.M. (1999) – Evaluation of the North Atlantic Oscillation as simulated by a climate model. Climate Dynamics, 15: 685-702.

Trigo, R.M.; Osborn, T.J.; Corte-Real, J. (2002-a) – The North Atlantic Oscillation influence on Europe: climate impacts and associated physical mechanisms. Climate Reseacrch, 20: 9-17

Trigo R.M.; Osborn, T.J.; Corte-Real, J. (2002-b) – Influência da Oscilação do Atlântico Norte no Clima do continente europeu e no caudal dos rios ibéricos atlânticos. Finisterra, Revista Portuguesa de Geografisa, 37: 5-31

Ulbricht, U.; Christoph, M. Pinto, J.G.; Corte-Real, J. (1999) – Dependence of winter precipitation over Portugal on NAO and baroclinic activity. International Journal of Climatology, 19: 379-390.

Thompson, D.W.J.; Lee, S.; Baldwin, M.P. (2033) – Atmospheric processesgoverning the Northern Hemisphere Annular mode/North Atlantic Oscillation. In James W. Hurrel, Yochanan Kushnir, Geir Ottersen, e Martin Vsibeck (edit.), The North Atlantic Oscillation: Climatic significance and environmental impact. American Geophysical Union: 81-112

Van Loon, H.; Rogers, J.C. (1978) – The seesaw in Winter temperatures between Greenland and Northern Europe. Part I: general descriptions. Monthly Weather Review, 106: 296-310.
Wallace, J.M.; Gutzler, D.S. (1981) – Teleconnections in the Geopotential Height Field during the Northern Hemisphere Winter.Monthly Weather Review, 109: 784-812

No comments: